Crônica da vida emateriana: O extensionista que voltou do além
Hoje, seis de dezembro é Dia Nacional do Extensionista Rural, e para comemorar esta data importante vamos contar a historia de um dos técnicos pioneiros da Emater-RO, que voltou da morte cinco meses depois de desaparecer. Os colegas já tinham até encomendado sua alma através de uma missa na catedral de Porto Velho.
A viúva cumpria seu luto, enquanto amamentava seu filho, nascido depois da partida do pai que desaparecera em um naufrágio no Rio Guaporé, durante uma missão extensionista, quando de repente, viu o referido surgir à sua porta deixando-a em estado de choque.
Para entender esse realismo fantástico, é necessário contextualizar a época. Na década de 70 o técnico extensionista rural em Rondônia tinha duas formas principais para se deslocar até as propriedades assistidas: poderia ir a bordo de um confortável jipe, com três ou quatro marchas, capota de lona, tração nas quatro rodas e reduzida pra sair dos atoleiros. A outra maneira era pegar uma canoa equipada com motor de poupa. E em algumas situações utilizava-se também os barcos de transporte de passageiros, que ainda navegam pelo Rio Madeira e Rio Guaporé.
Nos primeiros anos da extensão rural em Rondônia os técnicos eram contratados em outros estados, recebiam a capacitação inicial, chamada de pré-serviço e estavam prontos para ir a campo, que em Guajará-Mirim significava ir da sede do município até o extremo sul do estado, onde hoje está localizada a cidade de Pimenteiras.
Para atender o programa oficial de assistência técnica e extensão rural voltado aos seringais nativos, foi escalado o colega Paulo Maia, o Paulinho. Ele subia o Rio Guaporé entrando em quase todos os afluentes para prestar assistência técnica e fazer a supervisão dos projetos de custeio contratados com os bancos conveniados com a Acar-RO. As viagens geralmente demoravam mais de um mês até o retorno ao escritório.
A VIAGEM
Numa das primeiras viagens do ano de 1976 Paulinho se despediu da esposa, dona Lucimar, que estava grávida e embarcou em um barco de passageiros que subiria o Rio Guaporé até o sul do estado, passando por Costa Marques e demais localidades. Dessa vez iria acompanhado de um técnico do Banco do Brasil de nome Djalma, mais conhecido como “Grilo”, que faria a fiscalização do crédito rural.
A viagem era longa e entediante, mas eles não seguiam sempre no mesmo barco, precisavam descer nas localidades geralmente próximas à foz dos afluentes, onde alugavam barcos pequenos para adentrar nos rios menores, onde estavam localizados os seringais. Para estas despesas dispunham de um suprimento de fundo.
Numa dessas paradas, lá pelas proximidades de Pedras Negras, compraram passagens em um barco que seguia pelo Rio Guaporé para descer ate à foz de um dos pequenos rios que dava entrada para o próximo seringal a ser visitado, mas antes de chegarem ao porto seguinte encontraram a canoa com motor de popa que os levaria ao próximo seringal. Desceram do barco grande e seguiram a rotina de atendimento aos produtores de borracha natural.
NAUFRÁGIO
Paulinho e Grilo se demoraram nessa área atendendo diversos seringais, em alguns deles para chegar às colocações mais distantes demorava mais de dois dias, não havia comunicação com o mundo exterior, nem com o escritório, tão pouco com a família. Por causa do isolamento não ficaram sabendo que o barco, onde haviam viajado o último trecho, naufragara matando diversos passageiros.
A marinha e a policia fizeram as diligências no local do desastre resgatando os corpos, içaram o barco e encontraram a lista de passageiros, em que constava os nomes de Paulo Maia e Grilo. Cumprido o prazo das buscas e não tendo encontrado os corpos de todos os desaparecidos constantes da lista de passageiros, aqueles não encontrados foram dados como mortos e comunicado o ocorrido aos familiares.
A notícia deixou consternada toda a comunidade de extensionistas e principalmente as equipes de Guajará-Mirim e Porto Velho, onde Paulinho havia trabalhado. O então secretário executivo, Luiz Carlos Coelho de Menezes, determinou que se tomasse providencias para prestar a assistência necessária à viúva e ao filho do extensionista, tragicamente desaparecido nas águas do Rio Guaporé, e que fosse celebrada uma missa em intenção a alma do colega Paulo Maia.
CHOQUE DE REALIDADE
Passados cinco meses e algumas semanas da partida daquela viagem, que provocara tanta tristeza e saudade à esposa e entre os colegas da extensão rural rondoniense, dona Lucimar, esposa de Paulinho, já havia voltado à casa dos pais em Porto Velho. Certo dia, estava sentada amamentando seu filho, quando viu chegar a sua porta um homem de cabelos e barba grande. De imediato ficou assustada tentando reconhecer aquela fisionomia, quando o homem falou: “sou eu Lucimar, o Paulinho”, ficou em estado de choque.
Passado o susto ela se levantou e abraçou o esposo, ambos ficaram emocionados. Logo chegaram os parentes que avisaram os vizinhos e mandaram recados aos colegas da Aster-RO. Os amigos foram chegando e daí pra frente rolou uma grande festa.
O personagem principal dessa historia é o pai do colega Marcio Maia, portanto sogro da colega Giselma, que trabalha na gerência financeira, no escritório central da Emater-RO. E a criança citada nessa história, que nasceu durante o período de desaparecimento do pai, é justamente o colega Marcio Maia.