Assédio moral no ambiente de trabalho foi tema da palestra oferecida pela Emater-RO aos seus empregados
Com o objetivo de fortalecer as relações pessoais entre seus empregados a direção da Emater-RO realizou, nesta terça-feira (12), uma palestra sobre assédio moral e seus malefícios para a organização. Reunidos no auditório do antigo prédio da instituição, os empregados de Porto velho e região tiveram a oportunidade de conhecer as diferenças e os limites das atitudes que podem ocasionar situações de desequilíbrio ou constrangimento físico ou psicológico no ambiente de trabalho. A palestra foi ministrada pelo extensionista rural, engenheiro agrônomo, advogado e ex-secretário executivo da Emater-RO, José Tarcísio Batista Mendes.
Nos dias de hoje, em maior ou menor intensidade, as organizações corporativas ainda carregam princípios gerenciais dos primórdios do século passado. Estruturas hierárquicas com base na lógica do comando-controle, ou seja, do escalão mais alto para o escalão mais baixo ainda é muito comum nas estruturas organizacionais, entretanto a globalização, a modernidade, a competitividade no mercado atual tem exigido das empresas, de uma forma geral, mudanças na forma de administrar e de se relacionar com seus colaboradores.
“A própria Emater-RO passou por diversas mudanças ao longo dos anos”, explica Tarcísio, relatando que na década de 1980, quando o país passava por mudanças política, econômica e comportamental, a estrutura organizacional se baseava no “downsizing”, que traduzido para o português significa achatamento. A técnica visava à eliminação de processos desnecessários que engessavam e atrapalhavam as tomadas de decisões para se criar uma organização mais eficiente e enxuta.
Com a chegada da globalização, na década de 1990, as empresas se viram obrigadas a se moldarem rapidamente dentro desse novo ambiente, objetivando qualidade dos seus produtos e buscando a competitividade. Nesse contexto entram em cena os processos de reengenharia e terceirização.
Com os empregados, não é diferente. Com os novos desafios a serem enfrentados pelas empresas, é imprescindível a participação deles no processo evolutivo da organização que precisam começar a vê-los como parte integrante da organização. E eles, por sua vez, também precisam evoluir, modernizar-se, especializar-se para atender as demandas da nova estrutura.
A virada do século trouxe a busca por resultados, o foco nas metas e levou as empresas a exigirem mais de sues colaboradores. Criando um ambiente de cobrança, pressão, estresses que muitas vezes são confundidos com assédio moral. Não que não exista assédio moral nas relações pessoais no ambiente de trabalho. Muitos que ocupam o cargo de chefia ainda se baseiam nos primórdios do inicio do século XX e colocam sua pressuposta autoridade acima de todas as relações, mas também tem colaborador que ainda confunde as situações. E é esse esclarecimento que a Emater-RO levou aos seus empregados.
ASSÉDIO MORAL
Para definir assédio moral, José Tarcisio abordou primeiramente o significado de dano moral. Segundo ele, dano moral é uma violação dos direitos da personalidade. “É quando colocamos o outro em situação de desequilíbrio psíquico ou mental, através de um ato lesivo, ilícito e que deve ser reparado”, explica o palestrante. Já, o assédio é a conduta que causa constrangimento psicológico ou físico à pessoa. “O assédio ainda se divide em sexual ou moral”.
Assim, ainda segundo José Tarcísio, assédio moral no local de trabalho é uma atitude que incomoda, importuna os bons costumes. Entretanto, ele alerta que o que caracteriza assédio é a conduta repetitiva, sempre repelida pela vítima. “O assédio moral pode ocorrer quando uma pessoa ou grupo de pessoas exercem violência psicológica sistemática, recorrente por um tempo prolongado sobre outra pessoa. Gestos, palavras, atitudes, até brincadeiras que parecem inofensivas, podem vir a ser assédio moral, se for recorrente e ameaçar a integridade física ou psicológica da pessoa.”
Além das causas e consequências do assédio moral no âmbito trabalhista, a palestra abordou questões institucionais que podem levar ao assédio moral, lembrando que o assédio moral nem sempre é do alto escalão para o subordinado. “O assédio moral pode ocorrer ao inverso, do subordinado para o seu gerente, seu diretor, pode ser entre colegas de trabalho”, explica José Tarcísio.
No cenário de hoje, as principais causas capazes de levar ao assédio moral são: globalização econômica, transformação produtiva e automação industrial, pois suas consequências levam a extinção de cargos e postos, terceirização de serviços, flexibilidade no trabalho, pressão por resultados, maiores exigência e elevação do desemprego. São situações que colocam as pessoas em estado de vulnerabilidade e que, acabam gerando situações que levam ao desequilíbrio psíquico ou físico da vítima.
Segundo as estatísticas apresentadas durante a palestra, os principais alvos do assédio são pessoas maiores de 35 anos, com altos salários, portadores de deficiência ou problema de saúde, crenças religiosas ou orientações sexuais diferentes, entre outras. Normalmente são atingidas por suspiros exacerbados, levantamento de ombros, olhares de desprezo, silêncios e ignorar a pessoa não a olhando ou não falando com ela e humilhações que terceiros podem não ver, mas que são sentidos pela vítima, sem falar de frases ditas com o fim de menosprezar a pessoa.
Embora pareça inofensivo, o assédio moral influencia diretamente nas relações, na saúde e produtividade, além dos riscos trabalhistas, causando, entre outros, baixa produtividade; baixa autoestima; ausência do ambiente de trabalho; seja por falta; saídas ou atraso; e problemas de saúde (gastrite).
Por fim, o assédio moral é um mal que está presente em toda a parte do mundo. No Brasil, 36% da população economicamente ativa sofrem de assédio moral. Nos Estados Unidos são 16,6%, seguido do Reino Unido, com 16,3%. Nos demais países, como França, Alemanha, Espanha, Bélgica, Itália, etc. o fato também ocorre, mas em uma proporção menor. Menos de 10%.
É sempre bom lembrar que nem tudo o que desagrada pode ser considerado assédio moral. José Tarcísio elenca como situações que não caracterizam assédio moral: situação eventual de humilhação, comentário depreciativo ou constrangimento, desde que ocorrido em situações de onde o fato não é recorrente; cobranças inerentes às atividades da função, críticas construtivas, avaliações do trabalho realizadas de forma não vexatória; ou más condições de trabalho na empresa, por si só, mas alerta: “essas também são situações que devem ser combatidas, pois apesar de não se caracterizarem como assédio moral, não deixam de ser situações que causam desconforto”.
Essas são situações inerentes do ser humano, não recorrentes ocasionadas por situações de estresses momentâneos. No entanto, em se constatando o assédio moral é preciso que haja uma intervenção a fim de manter o clima saudável entre a equipe.